Thomas Babor critica cultura do consumo excessivo de álcool

Thomas Babor, professor da Universidade de Connecticut e autor do livro "Alcohol: No Ordinary Commodity" (Foto Peter Ilicciev)

 

Reportagem de  André Costa/Agência Fiocruz de Notícias

 

Um dos destaques do Seminário Internacional Álcool, Saúde e Sociedade, promovido pelo Programa Institucional de Apoio a Pesquisas e Políticas Públicas sobre Álcool, Crack e outras Drogas (PACD), foi Thomas Babor, professor da Universidade de Connecticut e autor do livro "Alcohol: No Ordinary Commodity", considerado a maior referência já escrita no estudo sobre álcool, sociedade e saúde.

O evento foi realizado em  24 e 25 de outubro de 2016, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) e abordou os aspectos epidemiológicos, históricos e culturais do consumo de álcool, assim como as políticas públicas no Brasil e na América Latina. 

Babor afirmou que um equívoco comum no estudo de álcool é olhar apenas para a “ponta do problema”, isto é, para o indivíduo que abusa da substância, o que, segundo ele, ignora as causas do alcoolismo.Dentre os fatores causadores dos problemas ligados a álcool, ele explicou, estão preços baixos, a fácil disponibilidade, uma cultura de bebida em excesso, estratégias de marketing agressivas e a ausência de controles regulatórios: “juntos, estes fatores produzem uma ‘tempestade perfeita’, que leva a epidemias, especialmente entre os jovens”, disse.

O pesquisador acrescentou que pesquisas empíricas provam que medidas educativas e de conscientização – os argumentos aos quais a indústria mais recorre quando questionada acerca dos males do alcoolismo – têm efeitos desprezíveis ou inexistentes sobre o consumo excessivo de álcool, e que apenas intervenções governamentais que restrinjam a oferta da bebida podem contrapor-se a isso.

Babor lembrou ainda de políticas públicas locais de sucesso no combate ao alcoolismo, incluindo a experiência brasileira em Diadema, município que viu redução brusca em seu nível de homicídios após ter limitado até 23h a venda de álcool, assim como a chamada Lei Seca no trânsito. Como exemplo negativo, ele se citou à venda de cerveja em estádios durante a Copa do Mundo de 2014, que foi contra a proibição nacional da venda de bebidas alcóolicas em partidas de futebol. “Ali, o poder da indústria global do álcool, dos patrocinadores da Fifa, ficou bastante evidente, sobrepondo-se às leis locais”, salientou. “É contra estes interesses que deve se colocar a ciência”.